Dezembro 19, 2024

Saúde cria plataforma para monitorar saúde indígena

Por Vanio Gonçalvez Vânio Goncalves

Saúde cria plataforma para monitorar saúde indígena

A Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), vinculada ao Ministério da Saúde, fechou uma parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein para criar uma plataforma destinada à coleta, ao repositório e à integração de dados sobre a saúde indígena no Brasil. A iniciativa também realizará análises de água e solo nas comunidades em que a população vive.

O projeto Vigilância Ambiental e Saúde Indígena, realizado no âmbito do Proadi-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde), terá duas frentes principais: a construção e o lançamento, em 2026, de uma plataforma que facilite a visualização dos dados de saúde da população indígena e a análise territorial em cerca de 40 localidades priorizadas pela Sesai.

Hoje, os dados de vigilância ambiental, saneamento, resíduos sólidos e características dos territórios indígenas são coletados pelos profissionais de saúde que compõem as equipes multidisciplinares de saúde indígenas.

As informações estão armazenadas em planilhas de Excel, formato que dificulta a análise devido ao volume extenso de informações e à falta de integração com outras plataformas do Ministério da Saúde.

A ideia da nova plataforma é centralizar os dados, permitindo ao Ministério uma visão abrangente dos problemas que afetam essa população. “Com isso, será possível planejar projetos e direcionar recursos financeiros de forma mais eficaz”, explica Weibe Tapeba, da Secretaria Especial de Saúde Indígena.

O projeto tem o apoio do Distrito Sanitário Especial Indígena —gestores do sistema de atenção à saúde indígena— que operam em comunidades com unidades básicas de saúde, polos-base e casas de saúde.

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Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein, diz que a plataforma oferecerá dados detalhados sobre os riscos de doenças, como diarreias e outras condições crônicas, além de informações sobre mortalidade infantil e doenças infecciosas.

“Essas informações das comunidades indígenas serão inseridas no programa para entender as causas desses problemas e orientar as ações do Ministério da Saúde. Isso ajudará a definir investimentos para melhorar a saúde e, principalmente, prevenir situações que agravem os quadros existentes”, afirma Klajner.

Segundo o Censo Demográfico de 2022, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 69,12% dos indígenas (1,1 milhão) viviam em domicílios com pelo menos uma situação de precariedade ou ausência de saneamento básico no Brasil. O levantamento considerou condições como abastecimento de água, destino do esgoto e coleta de lixo.

A análise territorial do projeto será realizada em cerca de 40 localidades indígenas da Amazônia Legal, priorizadas com base em critérios como mortalidade infantil e incidência de doenças diarreicas agudas. A análise incluirá testes moleculares de água e solo para identificar possíveis causas de adoecimento.

Dados do NCPI (Núcleo Ciência Pela Infância) revelam que, entre 2018 e 2022, a taxa de mortalidade de crianças indígenas com até quatro anos foi mais do que o dobro da registrada entre outras crianças no Brasil. As causas mais comuns incluem doenças evitáveis relacionadas à falta de saneamento e à contaminação da água.

Neste ano, uma pesquisa da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostrou que a contaminação por mercúrio entre indígenas yanomamis tem provocado graves déficits cognitivos nas crianças. Os resultados indicam que os níveis elevados de intoxicação por metais pesados estão diretamente relacionados ao aumento dos danos cognitivos.

As amostras coletadas pela Sesai nas localidades da Amazônia Legal serão submetidas a análises moleculares pelo Einstein e a testes físico-químicos conduzidos por uma empresa parceira.

Essas análises identificarão microorganismos presentes no solo e na água, além de possíveis metais contaminantes. Os resultados serão integrados à plataforma desenvolvida pelo Einstein para ajudar a Secretaria de Saúde Indígena a identificar fatores ambientais associados aos problemas de saúde enfrentados pela população indígena.

O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde.

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